sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Não veja, não leia*

             Por Fernando Grecco
            “A Veja mente, mente, mente, desesperadamente...” (Emir Sader)

     É de conhecimento público que a revista “Veja” é o símbolo maior daquilo que podemos denominar de aberração midiática. Seus apelos publicitários e suas reportagens expressam o mau gosto extremado e uma gama de interesses dos mais porcos que podemos imaginar. Ela, nas palavras de Emir Sader, mente desesperadamente, e seu intuito é estabelecer “verdades” que nem de longe podem ser interpretadas como um jornalismo razoável. Ela produz lixo, lixo e mais lixo. E, pior, é o hebdomadário de maior circulação nacional.
       Na semana que encerramos, a “Veja São Paulo” conseguiu se superar. Estampou em sua capa um playboy que, segundo a revista, gasta aproximadamente R$ 50 mil reais a cada final de semana com festas e boemia. Logo a matéria contaminou as redes sociais com as mais diversas pérolas da idiotice humana. Houve quem argumentasse, de maneira bastante simplória, que o individuo tem o direito de gastar seus recursos privados onde achar conveniente. É o senso comum que, para muitos, é o máximo que conseguem expressar. A realidade é triste.
       Não adentraremos nos méritos da reportagem, uma vez que o espaço é relativamente importante para ser desperdiçado com tamanha frivolidade que, talvez, possa interessar a alguns desocupados, mas não à maioria dos leitores deste jornal. O que nos preocupa é a tamanha libertinagem da imprensa em promover uma farra midiática que fere princípios e promove um descrédito generalizado nos meios de comunicação. Sabemos que a “Veja” é especialista na arte de propagar invencionices e fábulas, mas seus limites têm ultrapassado o que sempre acreditamos ser o pior em matéria de jornalismo.
        Embora tenha árduos concorrentes, a “Veja” consegue esmerar-se na produção de um jornalismo destinado a um público tão vil como ela mesma. A revista conseguiu perder seu caráter de porta-voz da elite – com defesas incansáveis de bancos, do imperialismo norte-americano e da política genocida de Israel – para propagar alegorias que nos causam asco. São mentiras e cretinices repetidas de tal maneira que custa acreditar que seus redatores tenham algum nível de instrução. Se a idéia única é a imbecilização coletiva, o periódico semanal cumpre sua função com excelência.
    Seus colunistas são exemplos irrefragáveis do quanto a boçalidade pode tomar o espírito das pessoas. É um problema crônico de mau-caratismo, de servilismo a interesses comerciais dos mais baixos. Seus compromissos esbarram em levantar a bandeira do racismo, do segregacionismo, em propagar veladamente o ódio aos pobres e aos intelectuais críticos que, geralmente, estão à esquerda no espectro político. É uma enxurrada de horrores dissolvidos em palavras que nada devem representar àqueles que adquiram o simples ato de pensar.
   Toda   essa   problemática   desemboca   na  necessidade  urgente  em  se  aprovar  uma legislação  que  regulamente os meios de comunicação. Não se trata de censura, mas de se exigir  o  mínimo  de  compromisso  com  um  jornalismo razoável, tudo que não se vê em terras  brasileiras.  Como bem avalia Jonas Gonçalves, titular da coluna "Enredo Virtual" do site Tele História, “da mesma forma que se exige (com toda a razão) que não haja censura e  que  a  liberdade  de  imprensa  prevaleça,  também é imperativo que se exija ética de quem se diz no direito de não ter o trabalho impedido”.

* Artigo para publicação do jornal Folha de Votorantim de 09/11/2013.

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